
Bate-papo com a docente
Por Ana Cecília Simões e Luana Amorim
O Insira Educacional teve sua última palestra do ciclo Nutri 360°, com o tema “Introdução de alimentos: Tradicional x BLW – Evidências, controvérsias e aplicações”, ministrada pela Mestre em Ciências da Saúde e Especialista em Nutrição Pediátrica pela UNIFESP, Raquel Machado.
As práticas tradicionais para a introdução dos alimentos recomendam preparações com consistência pastosa. Já o método baby-led weaning (BLW), proposto por Gill Rapley, aponta que bebês a partir do sexto mês possuem habilidades motoras para conduzir a própria ingestão. Segundo Rapley, os bebês apresentam maior desenvolvimento e estão preparados para consumir alimentos em pedaços.
De acordo com Arantes et al, o BLW proporciona possibilidades para as crianças escolherem o ritmo e quantidade que será consumido nas refeições. Entretanto, essa atividade tem sido questionada se tornando alvo de atenção pelo público e profissionais da área da saúde e nutrição.
Para esclarecer as principais dúvidas acerca do assunto, o Insira Educacional conversou com a docente Raquel Machado. Confira!
Insira Educacional: A partir de quanto tempo de vida o bebê pode ser introduzido ao método BLW?
Raquel Machado: Desde o momento em que a criança começa a introdução alimentar, que é preconizada aqui no Brasil, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a partir dos 6 meses, antes disso o recém-nascido deve se alimentar exclusivamente do leite materno.
I.E.: Como fazer a introdução alimentar por meio do método BLW?
R.M.: O ideal para a introdução dos alimentos é escalonar. Com 6 meses oferecer uma refeição principal, que pode ser o almoço ou o jantar, dependendo da rotina da família, e frutas duas vezes por dia, o restante segue sendo leite. Próximo aos 8 meses, é acrescentada a segunda refeição principal e à medida que forem aumentando as refeições vai se diminuindo a quantidade de leite até chegar nos 12 meses, no qual a criança mama em poucos momentos do dia, pois o restante está preenchido por alimentos. E assim fica até que seja suspenso o aleitamento, preferencialmente que seja feito até os dois anos de idade.
I.E.: Pensando do ponto de vista nutricional, o método BLW é indicado?
R.M.: Os estudos mostram que se a aplicação do método não for orientada por um profissional, existe o risco de deficiência de micronutrientes como vitaminas e minerais, ou até mesmo a ameaça do consumo excessivo de gorduras, açúcares e sódio. No entanto, quando feito com um aconselhamento profissional a ingestão de micronutrientes e macronutrientes é equilibrada.
I.E.: O que oferecer ao bebê para garantir todos os nutrientes necessários para um bom desenvolvimento por meio do método BLW? E em qual quantidade?
R.M.: A quantidade que a criança come é ela quem decide, por meio da auto regulação. O tipo de alimento que deve ser oferecido é exatamente o mesmo da abordagem com purês, alimentos de todos os grupos. A diferença é que no método BLW deve-se tomar um maior cuidado com os alimentos com potenciais de risco para engasgo. O importante é apresentar os mesmos grupos de alimentos, mas ter criatividade e oferece-los de outra maneira.
I.E.: O que fazer caso o bebê não goste do alimento oferecido e como saber se ele comeu o suficiente?
R.M.: Ele quem decide a quantidade, então não pode desistir de oferecer quando não gostar de determinado alimento. Entretanto, não se deve obriga-lo a ingerir por meio de coerção ou distração, para isso há uma série de técnicas usadas para estimular a criança a comer e aceitar os novos alimentos.
I.E.: Dentro do método BLW a possibilidade de engasgo é maior?
R.M.: As evidências indicam que o risco é exatamente o mesmo. Quando alimentação é orientada por um profissional e são oferecidos os alimentos corretos a chance de engasgar é a mesma entre purês e sólidos.
I.E.: Ao comparar a introdução de alimentos tradicional x introdução via BLW, você diria que “O novo é sempre bom ou o velho/tradicional é mais seguro”?
R.M.: O método ideal é aquele que cabe para a circunstância e contexto que a família está inserida. É necessário levar em consideração a condição psicológica, o estilo de vida, as habilidades fisiológicas e o amadurecimento da criança para receber os alimentos em consistência sólida.
Referências:
- World Health Organization. Infant and young feeding: model chapter for medical students and allied health professionals. Geneva: WHO; 2009
- Rapley G, Murkett T. Baby‑led weaning: helping your baby to love good food. Reino Unido: Vermilion; 2008.
- ARANTES et al. Método Baby-led Weaning (BLW) no contexto da alimentação complementar: Uma revisão. Rev Paul. Pediatr. Acesso em: 09 de agosto de 2018. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rpp/2018nahead/0103-0582-rpp-2018-36-3-00001.pdf.
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