
O Câncer Colorretal (CC) é um tumor que acomete o intestino grosso que é subdividido entre cólon e reto e, mesmo que a cirurgia de retirada tenha técnica minimamente invasiva, os cuidados pós-operatórios são fundamentais para prevenir a incidência de complicações infecciosas que permanecem altas.
A infecção de sítio cirúrgico (ISC) é comum, com incidência variando de 5% a 26%. Os desequilíbrios da microbiota e a quebra da barreira intestinal podem ser responsáveis por estas complicações.
Estudos de diferentes procedimentos gastrointestinais sugerem que o uso de simbióticos possa prevenir infecções pós-operatórias. Os simbióticos são compostos formados pela combinação de prebióticos e probióticos. Os prebióticos são componentes alimentares não digeríveis que alteram seletivamente o crescimento e a atividade das bactérias colônicas. Os probióticos são bactérias viáveis usadas para regular o equilíbrio da microbiota intestinal.
O estudo de Flesch e cols. realizado pelo Serviço de Coloproctologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, entre junho de 2013 e abril de 2015 elegeu pacientes com adenocarcinoma colorretal histologicamente comprovado com indicação de ressecção colorretal eletiva e potencialmente curativa. A avaliação pré-operatória desses pacientes incluiu história clínica completa, exame físico, dosagem do antígeno carcinoembrionário, exame colonoscópico, tomografia computadorizada, avaliação subjetiva global (ASG) e avaliações antropométricas. Eles foram alocados aleatoriamente no grupo de intervenção (simbióticos) com 49 pacientes ou no grupo controle (placebo) com 42 pacientes. Ambos receberam dois sachês duas vezes ao dia contendo a substância ativa ou placebo por cinco dias antes do procedimento cirúrgico e por 14 dias após a cirurgia. O grupo de intervenção recebeu sachês contendo Lactobacillus acidophilus NCFM (109), Lactobacillus rhamnosus HN001 (109), Lactobacillus paracasei LPC-37 (109), Bifidobacterium lactis HN019 (109) e frutooligosacarídeos (FOS) 6g [simbioflora]. O grupo de controle recebeu sachês contendo maltodextrina 100% (6g). Os sachês para ambos os grupos tinham a mesma aparência e as substâncias apresentavam a mesma cor e sabor. No dia anterior à cirurgia, todos os pacientes eram submetidos ao preparo intestinal de rotina. Eles também recebiam gentamicina e metronidazol por via intravenosa uma hora antes da cirurgia.
No grupo tratamento apenas uma paciente apresentou infecção de ferida operatória e nove casos foram diagnosticados no grupo controle (p=0,002). Três casos de abscesso intra-abdominal e quatro casos de pneumonia foram diagnosticados no grupo controle, nenhum caso foi diagnosticado no grupo de simbióticos (p=0,001). Já a incidência de complicações pós-operatórias não infecciosas, como náuseas, vômitos, distensão abdominal, íleo, diarreia ou constipação não foi diferente entre os grupos de estudo (p=0,161). O tempo médio de hospitalização para os pacientes no grupo de simbióticos foi de 11 dias e os pacientes no grupo controle foi de 13 dias.
Em relação às ressecções colorretais, no entanto, os resultados até agora têm sido conflitantes devido a diferenças nas populações estudadas, tipo de cirurgia, cepas probióticas, simbióticos utilizados e metodologia de análise. Entretanto, os grupos de estudo ficaram com as características clínicas e demográficas similares, as complicações infecciosas, especialmente infecções de ferida operatória, são extremamente comuns na cirurgia colorretal e por fim, o uso perioperatório de simbióticos reduziu significativamente a incidência de infecção da ferida operatória. Dentre as funções dos compostos simbióticos, a melhor caracterizada é o aumento da resistência das cepas contra patógenos. As culturas probióticas competem com microrganismos patogênicos, cujo crescimento é inibido pela produção de ácidos orgânicos (lactato, propionato, butirato e acetato), reforçando os mecanismos de defesa natural do organismo. A modulação da microbiota intestinal pelos microrganismos probióticos ocorre através de um mecanismo chamado “exclusão competitiva” e as cepas que atuam de forma benéfica em tais casos são Bifidobacterium bifidum, Lactobacillus rhamnosus, Saccharomyces boulardii e Lactobacillus plantarum. O efeito dos probióticos na resposta imune também já foi demonstrado. Evidências em sistemas in vitro e modelos animais sugerem que os probióticos estimulem a resposta imune inespecífica e específica. Esses efeitos são mediados pela ativação de macrófagos, através de um aumento nos níveis de citocinas e atividade de células natural killers (NK). A mucosa intestinal é a primeira linha de defesa do corpo contra invasões patogênicas e ação de elementos tóxicos.
Os autores concluíram que a administração perioperatória de simbióticos em pacientes submetidos à cirurgia eletiva para câncer colorretal reduziu significativamente as taxas de infecção pós-operatória, mas não foi discutido sobre o estado nutricional dos grupos anteriormente. A ingestão oral pré-operatória e pós-operatória de simbióticos é uma estratégia promissora para prevenção de infecções cirúrgicas em pacientes com câncer colorretal e os mesmos devem ser orientados antecipadamente sobre este benefício contra infecções após a cirurgia.
Muitos hospitais e equipes cirúrgicas já utilizam este protocolo, entretanto o benefício ainda não é alcançado por todos.
Por
Leticia de Lima Silva
Estagiária de Nutrição e Marketing
Dra. Silvia Ramos
Nutricionista
CRN3: 10908
REFERÊNCIA:
FLESCH, Aline Taborda; TONIAL, Stael T.; CONTU, Paulo de Carvalho; DAMIN, Daniel C. A administração perioperatória de simbióticos em pacientes com câncer colorretal reduz a incidência de infecções pós-operatórias: ensaio clínico randomizado duplo-cego. 2017. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-69912017000600567&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 11 mar. 2019.
Escreva um comentário